A comunidade de cibersegurança segue há muito tempo um princípio simples: não colete mais dados do que pode proteger.
No entanto, leis de identificação (ID laws) e outras exigências legais têm forçado muitas organizações a armazenar grandes volumes de dados sensíveis, deixando-as numa situação delicada: precisam guardar informações que prefeririam nem ter.
Um caso recente dessa dificuldade foi o vazamento de dados na plataforma Discord.
No início de outubro de 2025, a empresa revelou que criminosos cibernéticos invadiram o sistema de um prestador de serviços terceirizado, responsável pelo atendimento ao cliente, e acessaram dados pessoais de usuários que haviam procurado o suporte ou as equipes de Trust and Safety da plataforma.
Embora o vazamento tenha envolvido informações comuns de tickets de suporte — como nomes, e-mails, endereços IP, dados limitados de cobrança e mensagens trocadas —, um tipo de dado roubado chamou atenção: documentos de identificação emitidos pelo governo.
Segundo o comunicado oficial do Discord, os invasores tiveram acesso a imagens desses IDs de usuários que recorreram ao sistema parceiro da plataforma para contestar expulsões por serem menores de idade.
O Discord não coletou esses documentos por acaso.
Leis de verificação de idade têm se espalhado globalmente, geralmente exigindo a confirmação da idade por meio de documentos oficiais, como carteiras de motorista, passaportes ou carteiras de identidade nacionais.
O descumprimento dessas regras pode acarretar multas milionárias.
O objetivo é legítimo: proteger menores de conteúdos online inadequados.
Mas, para as organizações que precisam coletar esses dados, as leis representam um verdadeiro desafio de segurança.
Hoje, empresas de diversos setores — da saúde às instituições financeiras, passando por escolas e sites de comércio eletrônico — são obrigadas a captar e armazenar volumes consideráveis de informações pessoais sensíveis, ainda que não estejam estruturadas para protegê-las adequadamente ou mesmo que não desejem coletá-las.
Em outras palavras, a antiga regra do mínimo necessário fica obsoleta diante das exigências legais que demandam a máxima coleta de dados.
Cada novo banco contendo documentos governamentais representa uma ameaça latente de vazamento.
Quando ocorre um incidente, as consequências vão além dos usuários diretamente afetados.
Empresas e seus parceiros podem sofrer multas regulatórias, processos judiciais, perdas de reputação e a quebra da confiança dos clientes.
Para pequenas e médias empresas, um único vazamento relevante envolvendo informações pessoais identificáveis (PII) pode ser devastador.
Os provedores de serviços gerenciados (MSPs), que administram dados sensíveis de múltiplos clientes e setores, acabam sendo diretamente impactados por essa vulnerabilidade.
Um incidente envolvendo um MSP compromete não só uma organização, mas potencialmente dezenas ou centenas simultaneamente.
O modelo tradicional de tecnologias usadas pelos MSPs agrava essa fragilidade.
Muitas vezes, esses provedores combinam diversas soluções pontuais — ferramentas distintas para backup, proteção de endpoints, gerenciamento de vulnerabilidades, aplicação de patch e operações de segurança.
Cada ferramenta adicional significa outra porta de entrada para ataques, uma integração extra para proteger, mais credenciais e contratos de fornecedores para gerenciar.
Esse cenário cria brechas: um dado pode estar criptografado por um sistema enquanto em trânsito, mas ficar exposto em repouso por outro; políticas de segurança nem sempre se sincronizam entre plataformas.
Além disso, falhas na comunicação entre sistemas geram pontos cegos no monitoramento.
Nesse contexto, em que os MSPs precisam proteger grandes volumes de dados sensíveis — incluindo IDs governamentais, registros financeiros e informações de saúde exigidos por regulamentações — essas vulnerabilidades são inaceitáveis e perigosas.
A resposta não está em adicionar mais ferramentas, mas em consolidá-las.
MSPs devem simplificar suas operações por meio de plataformas de segurança nativamente integradas, que unam cibersegurança, proteção de dados e gerenciamento de endpoints em uma única solução com um ponto central de controle.
Uma plataforma verdadeiramente integrada elimina as falhas comuns em ambientes com múltiplos fornecedores.
Quando backup, proteção de endpoints, recuperação de desastres e monitoramento operam via um único agente e console de gerenciamento, desaparecem os pontos de transferência que expõem dados, as vulnerabilidades nas integrações e a confusão sobre qual ferramenta cobre qual função.
Essa integração nativa traz benefícios práticos além da segurança: reduz a carga administrativa relacionada ao gerenciamento de diversos fornecedores, licenças e contratos de suporte.
O monitoramento centralizado oferece visão completa de todos os clientes em um único painel.
Fluxos de trabalho automatizados diminuem erros humanos, muitas vezes a origem das vulnerabilidades.
Mais importante, a integração reduz drasticamente a superfície de ataque.
Cada plataforma, agente ou console adicional é uma possível porta de entrada para invasores.
Ao adotar soluções nativamente integradas em uma plataforma única, os MSPs podem focar em fortalecer a segurança dos clientes, em vez de gerenciar múltiplas ferramentas.
O velho mantra — não colete mais dados do que pode proteger — nem sempre se aplica no ambiente regulatório atual.
O vazamento ocorrido no parceiro do Discord é um alerta claro sobre os impactos das leis de identificação para a proteção de dados.
MSPs precisam aproveitar todas as vantagens, incluindo a integração nativa nas plataformas que utilizam, para proteger o volume crescente de dados dos clientes.
A Acronis Threat Research Unit (TRU) é uma equipe de especialistas em cibersegurança focada em inteligência de ameaças, IA e gestão de riscos.
Essa unidade pesquisa ameaças emergentes, oferece insights de segurança e apoia times de TI com diretrizes, respostas a incidentes e treinamentos.
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