Após o assassinato de Charlie Kirk, o aparato político republicano entrou imediatamente em ação.
A Heritage Foundation, responsável pela publicação do Project 2025, junto com seu braço derivado, o Oversight Project, lançou uma solicitação para que o Federal Bureau of Investigation (FBI) classifique a “Transgender Ideology-Inspired Violent Extremism” (TIVE), ou seja, o extremismo violento inspirado na ideologia transgênero, como uma categoria de ameaça de terrorismo doméstico.
Essa iniciativa ocorre em um momento em que o então presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva para mobilizar as forças federais de segurança contra redes domésticas de terror ainda vagamente definidas.
O documento da Heritage Foundation e do Oversight Project, que define “ideologia transgênero” como “a crença que rejeita total ou parcialmente conhecimentos científicos fundamentais sobre o sexo humano como biologicamente determinado antes do nascimento, binário e imutável”, embasa suas recomendações políticas em uma alegação surpreendente: “Especialistas estimam que 50% de todos os tiroteios escolares graves (não relacionados a gangues) desde 2015 envolveram ou provavelmente envolveram ideologia transgênero”.
Quando questionado pela revista WIRED sobre as evidências que sustentam essa afirmação, o Oversight Project não respondeu.
Já a Heritage Foundation indicou um tweet de Roger Severino, um dos seus vice-presidentes, no qual ele afirma que “50% dos tiroteios escolares graves (não relacionados a gangues) desde 2015” envolveram atiradores transgêneros ou motivação relacionada à ideologia trans.
Severino detalha seu conjunto de dados, que inclui oito tiroteios, dos quais quatro, segundo ele, envolvem “um atirador transidentificado e/ou uma possível motivação ligada à ideologia trans”.
No entanto, os dados oficiais mostram uma realidade diferente.
Desde 2015, foram registrados ao menos quarenta e oito tiroteios em escolas, segundo o K-12 School Shooting Database, que monitora incidentes com armas de fogo em instituições escolares desde 1966.
No banco de dados, apenas três agressores foram publicamente identificados como transgêneros ou em tratamento de afirmação de gênero.
Entre eles, estão o atirador da STEM School Highlands Ranch, no Colorado (2019), e o atirador da Covenant School, em Nashville (2023).
A polícia de Nashville concluiu que o ataque não teve motivação política ou ideológica clara, priorizando a busca por notoriedade.
No caso do Colorado, as autoridades apontaram que um dos atiradores, um garoto transgênero, mencionou bullying e problemas prolongados de saúde mental como fatores motivadores.
Em outro episódio ocorrido em agosto, um indivíduo de 23 anos abriu fogo do lado de fora da Annunciation Catholic Church em Minneapolis.
Apesar de ter alterado legalmente seu nome e ter escrito sobre conflitos envolvendo identidade de gênero, não há evidências públicas que confirmem uma identificação consistente com o grupo trans.
A polícia apontou que o ataque foi impulsionado por hostilidade contra judeus, cristãos, minorias, além de uma busca por notoriedade.
Os promotores destacaram que o ódio manifestado pelo autor atingia quase todos os grupos imagináveis.
O banco de dados K-12, o mais abrangente do tipo, não contém dados sobre gênero para cerca de 12,5% dos atiradores desde 2015, o que dificulta ainda mais a formação de conclusões definitivas sobre tendências mais amplas.
Outros ataques em massa em escolas, como Parkland (2018) e Uvalde (2022), foram cometidos por jovens com histórico de ressentimento, misoginia ou ideação violenta, sem qualquer ligação com a chamada “ideologia transgênero”.
Especialistas destacam que o padrão predominante aponta para a supremacia branca, crenças antigovernamentais e misoginia como as principais motivações por trás da violência ideológica com uso de armas.
Classificar a “ideologia transgênero” como uma categoria de terrorismo, alertam, confunde identidade com ideologia, corre o risco de legitimar violência contra quem desafia normas de gênero e desvia o foco dos verdadeiros fatores que impulsionam a violência nas escolas.
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