Vídeos hackeados de câmeras de segurança (CCTV) de um hospital maternidade na Índia foram vendidos em canais do Telegram, segundo a polícia, levantando sérias preocupações sobre privacidade e segurança em um país onde esses dispositivos são cada vez mais comuns.
No início deste ano, a polícia do estado de Gujarat foi alertada pela imprensa sobre vídeos no YouTube que mostravam gestantes sendo examinadas e recebendo injeções nos glúteos dentro do hospital.
Os vídeos continham links para canais do Telegram, onde era possível adquirir gravações mais extensas.
O diretor do hospital informou que as câmeras foram instaladas para garantir a segurança dos médicos.
Para proteger a identidade das mulheres, não foi revelado o nome da cidade nem da instituição e, até o momento, nenhuma vítima registrou queixa formal.
A investigação policial revelou um esquema de cibercrime em grande escala.
Hackers furtaram imagens sensíveis captadas por pelo menos 50.000 câmeras espalhadas pelo país e as comercializaram na internet.
Na Índia, as CCTVs são onipresentes, instaladas em shoppings, escritórios, hospitais, escolas, condomínios e até residências.
Especialistas alertam que, apesar de contribuírem para a segurança, sistemas mal configurados ou mal gerenciados podem ameaçar a privacidade dos usuários.
Frequentemente, as câmeras são operadas por pessoas sem treinamento em cybersecurity, e alguns modelos nacionais apresentam vulnerabilidades exploráveis.
Casos anteriores incluem ataques a webcams e CCTVs domésticas que resultaram em pedidos de resgate para não divulgar vídeos privados.
Em 2023, o governo federal orientou os estados a não adquirirem equipamentos de fornecedores com histórico de falhas de segurança.
Além disso, implementou regulamentações específicas para fortalecer a proteção cibernética de câmeras de vigilância.
Ainda assim, incidentes de hacking continuam ocorrendo.
Em Gujarat, a polícia identificou uma rede de indivíduos atuando em diversas regiões do país.
“Eles invadiam sistemas de vigilância por vídeo — CCTVs — de hospitais, instituições de ensino, empresas e até quartos particulares em vários estados”, afirmou Lavina Sinha, chefe do departamento de cibercrime de Ahmedabad.
Hardik Makadiya, principal oficial de cibercrime em Gujarat, revelou que os vídeos eram vendidos por valores entre 800 e 2.000 rúpias (aproximadamente R$ 50 a R$ 130) e que havia canais no Telegram oferecendo transmissões ao vivo mediante assinatura.
O caso foi registrado sob diferentes acusações, incluindo violação de privacidade, publicação de material obsceno, voyeurismo e ciberterrorismo — crime inafiançável.
As autoridades entraram em contato com Telegram e YouTube, que retiraram os vídeos das plataformas.
Desde fevereiro, oito pessoas foram presas, vindas de estados como Maharashtra, Uttar Pradesh, Gujarat, Delhi e Uttarakhand, e estão sob custódia judicial enquanto o processo avança.
Yash Koshti, advogado de três dos acusados, negou as acusações, alegando que eles não são hackers e que outra pessoa teria cometido a invasão.
Já o investigador Ritesh Bhatia alerta para a vulnerabilidade de redes domésticas e sistemas de vigilância mal protegidos.
“Sistemas wireless permitem acesso remoto pelo smartphone ou laptop, mas, uma vez conectados à internet, hackers podem facilmente descobrir o endereço IP e a senha padrão.
A partir daí, conseguem monitorar, gravar, baixar ou desligar as câmeras”, explica.
Para se proteger, Bhatia recomenda a troca imediata das senhas padrão por combinações fortes de letras, números e símbolos, além de auditorias regulares conduzidas por profissionais de cybersecurity.
Ele destaca ainda a responsabilidade dos fabricantes, que deveriam alertar claramente os usuários para a necessidade de alterar as senhas originais, comparando a medida a avisos de saúde em pacotes de cigarro.
Segundo Makadiya, muitas das CCTVs invadidas ainda usavam senhas padrão, como “Admin123”, facilitando ataques via brute force — técnica que gera milhares de combinações para acessar o sistema.
Audrey Dmello, do Majlis, centro jurídico que defende os direitos de mulheres e crianças, ressalta a proliferação indiscriminada de câmeras no país, muitas vezes instaladas sem consentimento.
Ela cobra a adoção obrigatória de medidas de segurança, especialmente em ambientes sensíveis.
O diretor de um dos hospitais afetados afirmou que as câmeras nas salas de exame e injeção tinham como objetivo proteger os médicos contra falsas acusações, mas foram removidas dessas áreas após o incidente.
A polícia de Gujarat revelou que nem o hospital nem os pacientes registraram denúncia — o caso foi iniciado por um policial.
“As pacientes temem ter suas identidades expostas e, por isso, não querem formalizar a queixa”, explicou um oficial.
Dmello observa que a vergonha social enfrentada pelas vítimas agrava ainda mais o trauma.
“Quando há um componente sexual envolvido, a vítima sofre revitimização devido ao caráter patriarcal da sociedade indiana.
Para que as mulheres possam reivindicar seus direitos e os criminosos sejam responsabilizados, é fundamental que a sociedade pare de culpar e envergonhar as vítimas”, conclui.
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