Lidar com o luto pela perda de um ente querido já é uma tarefa difícil.
Muitas famílias conseguem se preparar para o pior, mas poucas estão prontas para enfrentar as ligações e cartas fraudulentas que surgem semanas após o início do processo de inventário — o trâmite legal para administrar oficialmente os bens do falecido.
Nesse momento de vulnerabilidade, golpes digitais ganham terreno.
Os criminosos se aproveitam dos registros públicos do inventário, que contêm informações sensíveis sobre herdeiros e bens.
Eles se passam por advogados, cobradores de dívidas ou prestadores de serviços relacionados à herança, exigindo pagamentos imediatos de taxas fictícias.
Essa prática é conhecida como "inheritance trap" (armadilha da herança) e vem crescendo como um tipo de cibercrime que explora registros públicos para atacar famílias em luto.
O processo de inventário é legal e, na maioria dos estados, seus documentos são públicos.
Essa transparência cumpre uma função legítima, mas também abre portas para os golpistas.
Entre as informações disponíveis estão:
- Nomes e endereços de herdeiros e beneficiários
- Inventários detalhados de bens e valores da herança
- Descrições e locais de propriedades
- Nomes de executores e representantes legais
- Datas de audiências e informações de protocolo
Esses dados ficam acessíveis geralmente em bancos de dados online, facilitando consultas em massa.
Criminosos monitoram esses registros para montar listas de famílias que passam por momento emocional delicado e que podem receber heranças significativas.
Quatro tipos comuns da armadilha da herança
1. Golpe da taxa falsa: Assim como no conhecido golpe das multas falsas do Detran, os criminosos usam dados do inventário para se passar por advogados ou autoridades judiciais, alegando que os herdeiros precisam pagar taxas para liberar os recursos da herança. Criam um senso de urgência com ameaças de ações legais ou congelamento de bens, exigindo pagamento por transferência bancária ou gift cards.
2. Falsos cobradores de dívidas: Enviam mensagens de texto ou fazem chamadas com voz gerada por IA, dizendo que o falecido tinha dívidas pendentes e que elas devem ser pagas imediatamente. Costumam usar dados do inventário para parecerem mais confiáveis e pressionar as famílias.
3. Serviços falsos para o espólio: Oferecem supostos serviços úteis, como avaliação de propriedades, busca por ativos ocultos ou limpeza do patrimônio. Alguns desaparecem após receber o pagamento; outros realizam serviços desnecessários solicitados por famílias desinformadas.
4. Pagamento antecipado para acelerar o processo: Quem promete acelerar o inventário ou garantir uma herança maior mediante pagamento antecipado quase sempre age de má-fé. Em alguns casos, até familiares gananciosos participam do esquema. Custos adiantados para "desbloquear" herança ou "cuidar do processo" terminam em prejuízo e sem garantia alguma.
O luto diminui a capacidade crítica das pessoas, mesmo aquelas mais resilientes quanto à privacidade.
Os golpistas sabem agir nesse momento, utilizando informações pessoais e detalhes da família para parecer legítimos.
Eles exploram ainda o senso de urgência, criando pressão para que as vítimas ajam antes de checar os fatos ou consultar um advogado.
- Nunca envie dinheiro nem compartilhe informações pessoais com contatos não solicitados relacionados ao inventário.
- Caso receba demandas de pagamento ou obrigações, confirme a identidade do interlocutor junto ao tribunal de inventário, utilizando números públicos oficiais, e não os fornecidos pelo suposto contato.
- Fale com o advogado da família antes de efetuar qualquer pagamento.
- Evite expor detalhes do inventário em redes sociais e limite o compartilhamento de informações apenas a pessoas de confiança.
- Serviços de remoção de dados pessoais ajudam a retirar informações sensíveis de sites usados por golpistas para complementar os dados do inventário.
Embora não garantam a proteção total, facilitam a preservação da privacidade.
- Configure alertas antifraude com bancos ou responsáveis pelo espólio, especialmente em casos de patrimônios valiosos.
- Caso identifique possíveis golpes, reporte ao tribunal de inventário e à plataforma ReportFraud[.]ftc[.]gov.
Isso pode levar a medidas que protejam os bens ou até à destituição de executores fraudulentos.
- Oriente idosos e pessoas vulneráveis sobre esses riscos, pois golpistas costumam testar múltiplos herdeiros para encontrar o mais suscetível.
O processo de inventário exige um equilíbrio delicado entre transparência e privacidade.
Embora seja impossível impedir que muitos dados se tornem públicos, o controle sobre quem acessa e como você responde pode fazer toda a diferença para evitar prejuízos durante um período de vulnerabilidade.
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