A cartada de Elon Musk
19 de Setembro de 2024

A rede social X voltou a funcionar para alguns brasileiros na quarta-feira (18) graças a um "truque". A empresa do bilionário Elon Musk mudou seus servidores, dificultando o bloqueio pelas operadoras de internet.

O X está bloqueado desde o fim de agosto por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), mas essa alteração permitiu a algumas pessoas acessar e publicar na plataforma, mesmo sem o uso de VPN.

A empresa disse que a mudança foi feita porque a infraestrutura para fornecer o serviço na América Latina ficou inacessível para sua equipe após o bloqueio no Brasil. Segundo a companhia, a alteração causou uma "restauração involuntária e temporária do serviço para usuários brasileiros".

Segundo a Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), o X passou a usar endereços de IP vinculados a servidores da Cloudflare, e não mais a uma infraestrutura própria.

"Diferente do sistema anterior, que usava IPs específicos e passíveis de bloqueio, o novo sistema (Cloudflare) faz uso de IPs dinâmicos que mudam constantemente", diz a Abrint.

Muitos desses IPs são compartilhados com outros serviços legítimos, como bancos e grandes plataformas de internet, tornando impossível bloquear um IP sem afetar outros serviços.

O X afirmou na noite de quarta que quando foi suspenso no Brasil, sua infraestrutura para fornecer o serviço na América Latina não estava mais acessível para sua equipe. E que, por isso, foi necessário mudar o servidor, causando a restauração "involuntária e temporária" do serviço.

"Embora esperemos que a plataforma fique inacessível de novo em breve, continuamos os esforços para trabalhar com o governo brasileiro para retornar muito em breve para o povo do Brasil", disse a empresa.

A mudança foi feita apenas em um servidor localizado no Brasil, como aponta o What's My DNS, site que permite verificar o endereço IP de domínios. Em outros países disponíveis na ferramenta, a empresa continua usando sua própria infraestrutura.

"O X faz isso justamente para burlar o bloqueio no Brasil, já que ele não fez essa alteração para o Cloudflare no acesso para outros países", afirmou David Nemer, antropólogo da tecnologia e professor da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos.

A Abrint afirma que as operadoras estão em uma posição delicada e aguardam o posicionamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para entender quais medidas devem ser tomadas.

Para Thiago Ayub,diretor de tecnologia da empresa de telecomunicações Sage Networks, a situação causa insegurança jurídica para os provedores, já que a ordem do STF diz que estas empresas devem usar todos os meios técnicos possíveis para inviabilizar o acesso ao X.

"Se a gente fizer ao pé da letra como está, teria que bloquear, criar um apagão no Brasil de vários sites populares. Então eu sinto que há um desconforto grande, um temor ou uma insegurança nos profissionais da minha área de seguir ou não a decisão como está", afirmou.

Nesse contexto, quem pode bloquear especificamente o X é a Cloudflare. "Ela tem plena autonomia de fazer esse bloqueio somente para o X e para os usuários brasileiros, porque são os equipamentos dela que estão sendo utilizados", destacou Ayub.

"A Anatel não consegue demandar das provedoras que bloqueie especificamente o X na Cloudflare, isso está além do que elas podem fazer", explicou Nemer. "O que elas podem fazer é bloquear a Cloudflare, mas isso não deve acontecer por causa da implicação disso."

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